domingo, 1 de novembro de 2009

Raças e cotas, por Contardo Calligaris

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As cotas só afirmam as diferenças com as quais sonham os racistas? Ou podem mudar algo?
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PERTENCEMOS A uma única espécie: a espécie humana.

Quanto a isso não há dúvida, visto que procriamos alegremente sem que as diferenças étnicas ou raciais atrapalhem o bom funcionamento sexual e reprodutivo. Mas só 250 anos atrás, na América do Norte e na França, foi proclamado o princípio de que, por pertencermos à mesma espécie, temos todos os mesmos direitos, independentemente de etnia, cultura, religião, gênero, berço e cor (da pele, do cabelo ou dos olhos).

Desde então, tal princípio vem se afirmando, aos trancos e, sobretudo, aos barrancos, por várias razões.

1) Há etnias e culturas que não topam aquela ideia proclamada 250 anos atrás.

2) Não conseguimos decidir se nossa igualdade de direito deve implicar ou não uma igualdade de fato. Depois de algumas tentativas desastradas, parece que concluímos que o importante é que todos tenhamos ao menos oportunidades parecidas no começo da vida. Estamos longe disso.

3) Mesmo acreditando na unidade da espécie e na igualdade dos direitos, adoramos pertencer a uma turma e continuamos enxergando um mundo dividido em nações, etnias, raças, classes, torcidas etc. Claro, prezamos nossa singularidade e, por isso, queremos ser contados um a um, como indivíduos, cada um diferente e único dentro da espécie comum. Mas também gostamos de privilégios, e os privilégios são mais "agradáveis" quando são negados a um grupo de excluídos: sala VIP só tem "graça" se os outros esperam no saguão do aeroporto. Em suma, no mínimo, a vontade de sermos singulares nos induz a criar grupos de discriminados, "diferentes" de nós.

4) As vítimas dessa discriminação, na hora de invocar o princípio da igualdade de todos para obterem os mesmos direitos dos demais, são obrigadas a se constituírem como grupo. Sem isso, sua reivindicação não teria chance alguma: o protesto de um negro discriminado será sem efeito se não existir algum "movimento negro".

Em tese, os grupos de vítimas da discriminação deveriam ser fundados em "identidades de defesa", ou seja, identidades que surgem provisoriamente, de maneira reativa. Por exemplo, "os negros" existem como grupo, aos olhos dos racistas, para serem discriminados; ora, a luta contra essa discriminação exige uma identidade positiva, de modo que os negros possam existir como grupo na hora de se opor à sua discriminação. No caso, eles afirmarão e valorizarão uma improvável ascendência racial comum. Problema: ao defender-se, eles darão crédito à mesma diferença inventada pelos racistas a fim de discriminá-los.

O perigo é que essas identidades, adotadas para lutar contra a discriminação e permitir, enfim, uma sociedade de indivíduos iguais, acabem consolidando as próprias diferenças que tratam de abolir. Por exemplo, uma política de cotas reservadas a negros e pardos (na universidade, no emprego público e mesmo no setor privado) é uma maneira de se opor à discriminação, mas, para funcionar, ela exige que a gente acredite nas diferenças raciais e as estabeleça como parte da identidade do cidadão -que é exatamente a situação com a qual o racismo sonha desde sempre.

Esse argumento é crucial no livro de Demétrio Magnoli, "Uma Gota de Sangue" (ed. Contexto), que é, ao mesmo tempo, uma excelente história e apresentação do racismo no mundo moderno e uma crítica das políticas de cotas por elas necessariamente confirmarem a existência de diferenças raciais que não têm realidade biológica e cujo fundamento histórico é o próprio racismo.

Isso, logo no Brasil, onde a mistura das cores deixaria esperar um enterro mais rápido da categoria de raça.

Compartilho com Magnoli o sonho de uma sociedade em que a cor da pele seja indiferente. Mas minha avaliação das políticas de cotas é "matizada". Quando cheguei nos EUA, em 94, eu pensava como Magnoli, ou seja, previa que o sistema de cotas, instituído para "compensar" os efeitos da discriminação, dividiria o país, levando-o de volta para o século 19. Não foi o que aconteceu. Aos poucos, a presença de cidadãos de todas as cores na maioria das corporações (da polícia urbana ao corpo docente das universidades) se transformou num duplo valor compartilhado por todos ou quase: um valor estético (a diversidade é bonita) e um valor produtivo (a diversidade é funcional).

Até que um dia pareceu lógico, num país cujo sul inteiro foi racista e segregado, que um negro pudesse ser presidente.

Contardo Calligaris
Folha de São Paulo

Cinema na África - Bem-vindo a Nollywood




Como a Nigéria criou a maior indústria de cinema do mundo em produção de filmes para retratar a vida na África.

É provável que você nunca tenha ouvido falar na atriz que ilustra esta página. Mas ela é uma estrela, acredite. Com mais de 100 filmes no currículo, Genevieve Nnaji, 30 anos, faz parte do grupo das atrizes mais aclamadas de Nollywood, a indústria de filmes da Nigéria. De seus estúdios saem 45 filmes por semana – três vezes a produção de Hollywood, a indústria de cinema americana que originou o trocadilho do nome. Isso faz da Nigéria a maior produtora de filmes do mundo, à frente também de Bollywood, a indústria indiana.

O sucesso de Nollywood chama a atenção antes de tudo pelo contraste. A região africana é cenário de pobreza extrema. Uma criança nigeriana nasce com poucas chances de viver além dos 46 anos, e metade da população ganha menos de US$ 1 por dia. Mesmo assim, cerca de 90% das pessoas dizem assistir a pelo menos um filme por semana. Isso é possível por causa do formato peculiar com que as obras são distribuídas. Esqueça poltronas e ar-condicionado. As salas de cinema na Nigéria são um espaço com 20 cadeiras, um grande aparelho de TV e um DVD. Os filmes são exibidos em troca de alguns centavos ou vendidos em camelôs. Resultado: um negócio de US$ 540 milhões. Na Nigéria existe uma sala simples de cinema para cada grupo de 750 habitantes. No Brasil, há uma para cada 90 mil habitantes.

Além da distribuição, há diferenças também na produção dos filmes. Eles costumam ser feitos com orçamento que não ultrapassa os U$ 40 mil, e a toque de caixa. Com dinheiro contado, é preciso usar pelo menor tempo possível equipamentos alugados e locações. Os roteiros são filmados com câmeras digitais e as histórias invariavelmente retratam tradições, feitiçaria e corrupção. “Eles fazem sucesso porque tratam de temas que têm a ver com a realidade da população”, disse a Época NEGÓCIOS o italiano Franco Sacchi, diretor de um documentário sobre a indústria cinematográfica nigeriana. O resultado não é uma obra-prima da sétima arte. Mas o suficiente para alçar Genevieve e outras atrizes à categoria de superstars – e Angelina Jolie, à de solene desconhecida.


(Notícia de autoria de Marcos Todeschini publicada em 03/10/2009 no Site Época Negócios da Globo)

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Eleger um Presidente Negro não significa que o racismo tenha acabado nos EUA


Henry Louis Gates Jr., renomado professor da universidade de Harvard, foi detido e acusado de arrombar e invadir uma casa na cidade de Cambridge, em Massachusetts (EUA), no dia 16 deste mês.

O detalhe é que o professor, um dos acadêmicos com mais conhecimento sobre a questão racial nos Estados Unidos, estava dentro da sua própria casa.

A detenção de Gates é um exemplo típico da forma com a qual os negros são tratados pelo sistema criminal e pela Justiça nos países de elite hegemônica branca.

Aqui no Brasil, um país miscigenado, negros sofrem deste preconceito no seu dia dia. São inúmeros os exemplos de visitantes que são orientadas a usar o elevador de serviço, são revistadas em lojas por suspeita de roubo ou não recebem atenção de vendedores por serem negros.

Conheça um pouco sobre as Comunidades Quilombolas




O site Globo.com publicou no dia 19/07 um artigo sobre a tradição que já dura mais de 200 anos ba comunidade quilombola Kalunga, de Cavalcante (GO), que se reúne para festejar a fé em Nossa Senhora da Abadia, Nossa Senhora do Livramento e Santo Antônio.

O artigo traz um interessantíssimo vídeo onde a arte da celebração é exibida.

Vá lá e confira!

Festas de comunidade quilombola são atrações para turistas em Goiás